Back
SEXTA 15 OUTUBRO, 19H30
Segunda 2
Há vinte e seis
anos criei a primeira peça da Companhia Paulo Ribeiro: “Sábado 2”. Foram tempos
em que acreditei e acreditámos que tudo seria possível. O mundo prometia
abertura, a Europa consolidava um projecto comum e Portugal estava empenhado em
tornar-se maior. De sábado a segunda passou um fim de semana e um quarto de
século. Foi belo, foi intenso e, sobretudo, permitiu tornar sonhos em
realidade. O momento actual obriga a algum balanço. Às vezes, à força de fazer,
há um olhar que se pode perder num tempo que nos ultrapassa.
“Segunda 2”
parece-me ser a lógica continuação de um projecto que é obrigatoriamente de
autor e que surge do imperativo de voltarmos todos a uma suposta normalidade.
Um trabalho individual com o foco no colectivo. É o início da semana, o momento
propício para produzir e ir em frente. Aprendemos todos muito com os tempos que
a nível global fomos obrigados a (ultra)passar. Voltamos a projectos âncora,
voltamos com vontade de fazer melhor, voltamos com a dimensão do sonho e a
vontade de recuperar o tempo que ficou para trás. Voltamos com a imensa vontade
de voltar a estar próximos, de celebrar a vida, de reencontrar a festa.
É uma coreografia
que se desafia a si própria, que se coloca no limiar da falha que será sempre
uma aliada e não uma adversária. Uma peça que convoca algumas memórias de
tantas outras e que, nos seus percursos secretos, se inspira em muito daquilo
que os tempos nos têm dado. Não olhamos para a falha como obstrução, assim como
não olhamos para todos os sonhos desfeitos, os impasses que teimam em ser
condição de vida, as dinâmicas culturais, tantas vezes inconclusivas, a
tentativa vã de fixar e construir.
A dança continua
num lugar confinado, mas isso não nos interessa, na próxima segunda tudo vai
mudar, se não for na próxima será na outra, ou na seguinte, e para isso
acontecer, vamos continuar a desafiarmo-nos, a brincar, a provocar e exorcizar
a falha. Vamos ser singulares e colectivos. Vamos reencontrar a festa. Vamos
reencontrar o corpo. Vamos continuar a dançar.
Paulo Ribeiro
(o autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico)
Maiores de 6
Coreografia, Direção Artística e Montagem Sonora Paulo Ribeiro
Interpretação Ana Moreno, Catarina Keil, Margarida Belo Costa, Pedro
Matias, Sara Garcia e Valter Fernandes
Textos
de Isabel Nogueira
Texto de Paulo Ribeiro lido por Catarina
Keil
Desenho de Luz Nuno Meira
Assistente
de desenho de luz Manuel Abrantes
Figurinos José António Tenente
Organização de objetos cénicos (cenografia) João
Mendes Ribeiro
Produção Companhia Paulo Ribeiro
Coprodução Centro Cultural de Belém, Lisboa; A
Oficina, Guimarães; Teatro Nacional São João, Porto; Teatro Viriato, Viseu e
Cine-Teatro Louletano, Loulé
Apoio Escola Superior de Dança
A Companhia Paulo Ribeiro é uma estrutura financiada pela
República Portuguesa -Cultura/Direção-Geral das Artes