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QUINTA 14 NOVEMBRO, 21H30
Wadada’s Fire-Love Expanse
Tendo em conta a dimensão colossal do seu percurso no jazz e a sua inegável influência na música contemporânea, Wadada Leo Smith não pode deixar de ser considerado a grande figura de relevo histórico do programa desta 33ª edição do Guimarães Jazz. A sonoridade única do seu trompete, um som simultaneamente expressivo e depurado, e a versatilidade do seu ímpeto criativo, cristalizado numa música que flui harmoniosamente com a passagem do tempo, são características que contribuem decisivamente para o estatuto icónico de Leo Smith. Um olhar mais demorado sobre o seu trajeto artístico revela-nos também, e sobretudo, um criador multifacetado (com incursões na pintura e na escrita), atento às transformações estéticas à sua volta e permanentemente em busca de um som capaz de traduzir o “novo”. Em Guimarães, Wadada Leo Smith atuará em quinteto, acompanhado pelo guitarrista (e seu neto) Lamar Smith, pela violoncelista Ashley Walters e por uma secção rítmica de contrabaixo e bateria, que será assegurada por dois experientes músicos britânicos (John Edwards e Mark Sanders).
Wadada Leo Smith nasceu em 1941 no estado norte-americano do Mississípi, local de origem de múltiplas mitologias musicais e literárias, e, como seria natural nessa primeira paisagem geográfica, o seu percurso musical começou, sob influência do padrasto, o compositor e guitarrista Alex “Litlle Bill” Wallace, tocando ao vivo em bandas de Delta Blues. Após um período de indecisão quanto ao seu instrumento de eleição, Leo Smith acabou por concentrar-se no trompete e, em 1967, tornou-se membro da histórica e influente Association for the Advancement of Creative Musicians, ao mesmo tempo que funda a sua primeira banda, o trio Creative Construction Company, ao lado de Leroy Jankins e Anthony Braxton, saxofonista com quem viria a colaborar profusamente ao longo do tempo. Se a dimensão autoral foi sempre a dimensão privilegiada do seu trabalho, o historial de colaborações em que Wadada se envolveu ao longo do tempo é igualmente representativo da excelência musical deste compositor e trompetista: desde o já referido Anthony Braxton, passando por Henry Threadgill ou Carla Bley, até, mais recentemente, Vijay Iyer, Ikue Mori ou John Zorn, foram, e são, inúmeras as grandes figuras da música que tiveram o privilégio de criar a seu lado. Atualmente com a respeitável idade de oitenta e dois anos, Wadada Leo Smith mantém até aos dias de hoje uma vitalidade admirável materializada numa atividade quase permanente, seja na criação de música, no ensino ou na condução de ensembles. Por último, vale a pena mencionar que a prática musical de Wadada Leo Smith é complementada por um interessante trabalho nos campos da escrita – de que resultou a publicação de uma obra de filosofia musical – e das artes visuais – traduzido essencialmente na linguagem simbólica e visual, intitulada ”Ankhrasmation”, que criou em 1965 e aprofundado ao longo de mais de meio século de trabalho.
A carreira da violoncelista Ashley Walters, documentada em mais de duas dezenas de registos discográficos, divide-se entre os territórios da música clássica e do jazz. Em termos de formato, a sua atividade criativa expressa-se através, por um lado, de um trabalho a solo de composição e interpretação de reportório para violoncelo (tendo dedicado atenção particular a compositores como Berio ou Andrew McIntosh) e, pelo outro, numa dimensão colaborativa no âmbito do Formalist Quartet e enquanto acompanhante de figuras de relevo do jazz contemporâneo, tais como, entre outros, Wadada Leo Smith.
John Edwards é um contrabaixista britânico, virtuoso e versátil, com um historial impressionante de colaborações ao lado de alguns dos nomes mais relevantes do jazz contemporâneo associados às tendências de experimentação. Ao longo da sua carreira, John Edwards estabeleceu parcerias criativas altamente profícuas com, entre muitos outros, Evan Parker, Lol Coxhill, John Butcher, Louis Moholo ou o recentemente falecido saxofonista alemão Peter Brötzmann, uma das figuras históricas do free jazz europeu.
Mark Sanders é um baterista e percussionista reputado do circuito europeu associado aos movimentos do free jazz e da improvisação livre. Ao longo da sua carreira tocou com inúmeros músicos de referência do jazz (Roswell Rudd, Roscoe Mitchell ou Evan Parker, entre muitos outros) e colaborou com orquestras e ensembles prestigiados da música contemporânea (tais como, por exemplo, a Orquestra Sinfónica de Sydney ou o ICE Ensemble), tendo também participado enquanto compositor em projetos multimédia, nomeadamente em parceria com o reputado artista visual Christian Marclay.
Lamar Smith (n. 1965) cresceu em New Haven, EUA, e começou os seus estudos em guitarra clássica com apenas seis anos. Após as primeiras experiências com a guitarra elétrica, Smith começou a desenvolver o seu estilo próprio, o que o levou a iniciar a primeira colaboração de várias colaborações com Wadada Leo Smith, enquanto membro do ensemble Organic. Em paralelo à sua atividade musical, tanto em regime colaborativo como no âmbito do seu próprio trio, Lamar Smith encontra-se atualmente envolvido num projeto pedagógico de promoção da criação musical no âmbito do espaço Musical Intervention, em New Haven.
Maiores de 6
Wadada Leo Smith, trompete, piano
Ashley Walters, violoncelo
Lamar Smith, guitarra
John Edwards, contrabaixo
Mark Sanders, bateria
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